“RETEMPERANDO”

Haverá melhor retempero do que, depois de uma noite de tempestade, acordar ao som de pássaros cuja língua conhecemos?

Luanda, 15 de Março de 2011
Filipe da Silva

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4 respostas a “RETEMPERANDO”

  1. Maria Simoes diz:

    “Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
    manhãs e madrugadas em que não precisamos de
    morrer.
    Então sabemos tudo do que foi e será.
    O mundo aparece explicado definitivamente e entra
    em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
    palavras que a significam.
    Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
    mãos.
    Com doçura.
    Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
    vontade e os limites.
    Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
    sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
    mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
    ossos dela.
    Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
    como a água, a pedra e a raiz.
    Cada um de nós é por enquanto a vida.
    Isso nos baste.”
    José Saramago

  2. Filipe diz:

    Nunca consegui ler o Saramago. Falta de paciência, talvez falta de cultura… ou só desentendimento.
    Saramago: Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
    Filipe: Por vezes desabitada, a ilha que somos? Então e o Robison Crusué que há em todos nós, sempre bradando que mais vale só que mal acompanhado? Pode haver noites, manhãs e madrugadas em que não precisemos de viver. Em que nos apeteça reduzir o metabolismo. Parar e “introspectar”. Precisar de morrer, não precisamos nunca. Mas é inevitável, num futuro historicamente feito amanhã.
    Saramago: Então sabemos tudo do que foi e será.
    Filipe: E nunca saberemos tudo o que foi e será, mesmo nesta visão parcial do micro-mundo que nos rodeia. Nem falta faz. Não é o esquecimento que nos permite haver caminho para a felicidade (sem via, se perdurassem certas dores, na nossa memória)? Pois já esqueci o que nunca soube.
    Saramago: O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam.
    Filipe: Benditos os pobres de espírito. É deles o reino dos céus e a compreensão total do mundo. A serenidade é óbvia, nenhum sobressalto, nenhuma dúvida. Sem stress.
    Saramago: Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura. Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites.
    Filipe: Façamo-lo. Como alternativa a apertar, sem doçura, o pescoço de certos políticos, cuja vontade, de contornos bem definidos, ultrapassa os nossos limites.
    Saramago: Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
    Filipe: Sim a paz e o sorriso de quem se reconhece, não porque mordeu a alma, mas porque lhe deu asas.
    Saramago: Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.
    Filipe: E também o vinho, a sopa de pedra e a semente. Que nos permitem ir sobrevivendo a pedras com olhinhos (calhaus com olhos) que metem água e nos sugam até à raiz
    Saramago: Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste.
    Filipe: Se quisermos ser como a rês, enquanto espera a hora do matadouro. À vida não basta a vida, carece de merecimento. Deixemo-nos de ser narradores, passemos a personagens.

    Pode ser só desentendimento.

    Filipe da Silva, Março 15 – 2011

    • Maria Simões diz:

      Filipe:Por vezes desabitada, a ilha que somos? Então e o Robison Crusué que há em todos nós, sempre bradando que mais vale só que mal acompanhado? Pode haver noites, manhãs e madrugadas em que não precisemos de viver. Em que nos apeteça reduzir o metabolismo. Parar e “introspectar”. Precisar de morrer, não precisamos nunca. Mas é inevitável, num futuro historicamente feito amanhã.
      Maria: Desabitada, sim! Sem vontade de nada, reduzindo o metabolismo ao ponto de nada sentir. Há quem diga que não devemos ter medo de cair, é um alívio quando sentimos que chegámos ao chão! Como “introspectar” e reduzir metabolismo. Ás vezes é preciso chegar ao nada e reconstruir a partir daí, do nada, e isso é uma grandeza………de alma.
      Filipe: E nunca saberemos tudo o que foi e será, mesmo nesta visão parcial do micro-mundo que nos rodeia. Nem falta faz. Não é o esquecimento que nos permite haver caminho para a felicidade (sem via, se perdurassem certas dores, na nossa memória)? Pois já esqueci o que nunca soube.
      Maria: Esqueceste?!!! Bentido sejas, mas o que és sem o que foste? O que soubeste e não queres saber? Não faz parte de ti?
      Quem vive sem sobressalto, não vive, apenas está por cá.
      Filipe: Sim a paz e o sorriso de quem se reconhece, não porque mordeu a alma, mas porque lhe deu asas.
      Maria: Nesta verdade, o teu grito é o meu, apenas não faço um voo pleno porque ainda aprendo a voar…..
      Filipe: Se quisermos ser como a rês, enquanto espera a hora do matadouro. À vida não basta a vida, carece de merecimento. Deixemo-nos de ser narradores, passemos a personagens.
      Maria:”Cada um de nós é por enquanto a vida”. Cada um de nós é uma ilha. O merecimento fazemo-lo, normalmente,a partir de nós próprios, pelo amor que damos, ou pelo que recebemos, por quanto nos esquecemos de nós em prol da vida que teimamos em agarrar nos outros. Penso que nunca sozinhos, pela rede que criamos nesta gigantesca tribo, ás vezes acompanhados em consciência, com raiva, ou com pura condescendência pela vida.
      À procura do entendimento.

  3. jjfilipe diz:

    Ah Fénix, Fénix… e eu que te julgava mitológica 🙂

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